quinta-feira

Como café solúvel ...




Desmistificou toda a tormenta que passava .
Pegou cada palavra e desfez , desfez com a graciosidade de uma artesã.
Refez delas um novo alfabeto. Talvez um alfabeto mais adequado para aquele momento !
Era só a ordenação de códigos para então sossegar a alma .
Permitir-se ao novo também é perder-se diante do que não nos é compatível .
É a relação de desordem que posteriormente gera a calmaria .
Fez dos dias seguidos um mosaico de idéias e ligações
De fatos e atos
Que ao final mostravam o caminho mais certo e também mais engraçado que , perante uma desordem emocional poderia se seguir : O caminho da abstração .
Abstrair era fácil, porque quando se pensa em amplitude , o pequeno se anula .
Viu bem de perto essas intrigantes relações de querer e se deu conta que não queria é nada !
Querer é pouco .
Para ela,o termo desejar, explanava melhor o sentido de sua metamorfósica existência !
Desejava sim, o tudo e o nada, o muito e o pouco , o mais e o menos , a verdade absoluta e porque não a doce omissão quando essa então se fazia necessária.
Há situações que merecem uma doce omissão ,
Nem toda verdade pode ser dita .
Há ouvidos acostumados com o ilusório sentido de viver .
O sentido de viver dela era bem mais apurado e entre as aparentes divagações , muito se via por entrelinhas .
Nesse caso, só olhos bem apurados também a saberiam ler.
Os olhos também estão acostumados com a visão turva , com a performance artística que alguns exercem quando "querem" (vejam bem querem) se incluir .
Desejar não é pra todo mundo, nem pro mundo todo .
Desejar precisa de técnica , de certa dose de ousadia , medidas de pitanga, mel e baunilha,
Precisa da oleosidade das amendôas , do ardido da menta
E mesmo da acidez do limão.
Só a acidez permite certos elementos agirem.
Mas desejar também precisa de coisas desfeitas .
Ela adorava desfazer para rever novos formatos .
Embora a primeira etapa fosse de perda , uma nova montagem sempre a estimulava mais .
Para ela a vida toda e toda a vida, era assim
Feita de soluções tangíveis e findas.
De misturas que adocicamos 
A vida era fácil de ser moldada ,renovada,
Recriada numa xícara !
Bastava misturar café solúvel para se ter uma nova história ...


Por Val Amores ~*



2 comentários:

  1. "Nem toda verdade pode ser dita"

    Bem como, nem toda ilusão pode ser calada.

    Gostei muito deste texto.

    Beijos

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  2. "Permitir-se ao novo também é perder-se diante do que não nos é compatível"
    Perder-se em si mesmo é encontrar-se, é permitir que as coisas realmente aconteçam

    "Há ouvidos acostumados com o ilusório sentido de viver"
    Há olhos acostumados com a beleza que o dinheiro compra
    Há olfatos que não sentem o cheiro das rosas, nem da sujeira embaixo do tapete
    Há quem não viva com medo de morrer, por outro lado, há, ainda que poucos, quem morra para viver por completo

    Cada beijo dado em mulheres diferentes, senti-me como um conquistador
    Cada beijo que dou em você, de diferentes formas, sinto-me apaixonante
    Substituí as cantadas iguais para mulheres diferentes
    por cantadas diferentes para uma mulher que não é igual

    Uma boa companhia para um café,
    com frustas frescas e pão de centeio
    após uma noite de sono em teu seio
    Uma xícara onde vejo meu rosto refletido
    Um gole de vida para ver se faz sentido
    Café preto forte ou adoçado com leite?
    Irlandês ou com sorvete de creme?
    ou será solúvel, que se disfaz por qualquer tempestade?
    Qual destes fazem seu reflexo na xícara?

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Expus meu devaneio , exponha o que achou ? Um beijo na alma *