Observava estática diante do armário caixas coloridas , emolduradas pela borda branca das portas .Caixas coloridas dispostas , opostas em sabores , unas em cheiros adocicados .
Observava em pé , de pijama jogado, com o pé espalmado no piso frio, quadrado. Observava pensativa , apoiada no móvel .
Como sempre , exatamente naquele horário , procurava a sensação que tomava conta para então definir o gosto que precisava sentir. Há dias em que as sensações estão mais amargas , chamativas a um verde claro , amargo, saudável, chá de boldo .Há dias em que a leveza se expande e a camomila entra em cena pra dar continuidade na calmaria.E há dias em que o agito é intenso , estranho , que pede um exótico chá de baunilha com canela ou de canela com maçã .Tantas possíbilidades em um só Ser, que ali continuava, estático, indeciso, interiorizado ...
Ali ficava estranhamente , como se aguardasse uma voz silenciosa , um vento , uma música .
Nada acontecia , apenas aquele olhar de dúvida , de vontade , de indecisão .
Em um fechar de olhos resolveu então o sabor do dia , estendeu as mãos e num gesto rápido , mas sutil , levantou pela corda leve o conteúdo que finalizaria a rotina de um dia atípico , pelo menos naquele contexto .
A água fervente fez o resto do trabalho , o sabor imerso , borbulhando , fez subir aos céus a inspiração .
Com os dedos enlaçados na xícara vermelha , se pôs rapidamente a caminhar para a mesa com a folha de papel disposta .Coletou idéias , num saquinho de chá . Transformou fumaça em pensamento, vapor em composição ...
Por Val Amores
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