A atualidade exige de nós sempre a razão, as evidências , o concreto , o finito .
Impossível acreditar em algo plano como certo e que o certo é sempre o certo.
Viver em plenitude , penso eu , é saber sentir a intensidade momentânea , a temperatura da alma do outro, ainda que exista a suposta distância.
Será que não estamos bem ao lado e apenas não enxergamos ?
Penso intensamente que somos cegos universais .Cegos .
Buscamos um livro na estante para desligar do mundo e vivenciar a vida de um outro alguém .
Há quem veja a novela , outros preferem o teatro . Sempre pela necessidade da narrativa . Pena que se busca sempre a narrativa alheia .
Onde está a sua narrativa ?
A nossa narrativa?
O seu conto de fadas,
O nosso conto de fadas ?
A aventura, a batalha , a viagem ao outro mundo ou dimensão?
Não está em livro algum . Está em tí , em mim, em todos nós .
Podemos deixar o papel de leitores para vivenciar algo mais intenso , que é ser o próprio ator .
Nós somos os roteiristas , o ensaio que consiste já na apresentação sem texto pronto.
Viver é improviso !
Não precisa convite , nem roupa de gala .
É preciso apenas permitir-se a sentir emoções , não importando quais sejam elas .
Vida não é só determinada pelo horário comercial . Vida na verdade reside além disso.
Reside na narrativa oculta da alma .Nas entrelinhas do silêncio , que pode estar cheio de som musicado , de voz doce e gritos escancarados!
Eu particularmente não leio conto de fadas e isso desde criança .
Fiquei no entorno dos filósofos pela mão de meu pai.
Fiquei diante dos debates de nadas nadificantes e de ser ou não ser, apaixonada.
Isso não tornou-me fria, nem mesmo uma louca desalinhada , culta e chata.
Tornou-me agente de narrativas autênticas e que algumas vezes tentaram se esconder pela exigência e influência padrão de permanecer apenas na razão.
Tentativa falha !
Minha narrativa resistiu e apesar de não ter lido a fundo os famosos contos de fadas eu me torno princesa, rainha , vilã quando assim desejo. Deixo ainda que me levem de cavalo branco e me resgatem da torre , com enorme alegria .
Tenho me entregado a essa nostalgia lilás de extrair vida além da rotina e confesso estar amando demais tudo isso . Recomendo por vontade e pela necessidade que vejo no mundo.
Um mundo cinza, precisa urgentemente de uma paleta de cores ...
Hoje tenho carruagem , torre , não tenho medo de beijar os sapos , nem de enfrentar espadas .
Comparando com nossa rotina , não muda muito . São metáforas e metáforas são mapas que quando bem estudadas , nos revelam grandes segredos !
Não podemos deixar de ler o outro, mas não podemos em hipótese alguma, anular as nossas histórias .
Devemos sim , encarar personagens .
Quando deixamos isso acontecer , acontecemos de fato.
Acontecemos de forma mágica e realizamos a magia de experimentar todas as dimensões presentes em um Ser .
Descobrimos mais onde pensamos que existe menos . As melhores histórias estão dentro de nós e acabam sendo estimuladas pelo outro .
Cabe sempre a nós o envolvimento nessa troca de energia .
Isso nos engrandece em sorrisos porque nos sentimos especiais e principalmente porque nos conectamos ao outro e penso que conexão é o que mais falta neste globo azulado de almas ...
Não são os fios , apesar da modernidade , que nos conectam ,é a mente .
A mente que estimula o coração e o coração que nos faz sentir vida , a vida da outra vida .
Viver a narrativa é a forma mais completa de viver as paisagens contidas em nós e assim conhecer o mundo inteiro , ainda que nem se tire os pés do chão !
Com tudo isso, ganhei até um lobo , não sei se como chapeuzinho ou como princesa na torre em conto trocado , correndo perigo . Tudo bem, desde que eu "ainda" não seja a vovó.
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