domingo

Corpos suspensos e cabeças ocas !



Os dias não são mais iguais.
O tempo adquiriu novo ritmo e as horas não conseguem deter a impaciência, a necessidade do projeto, da presença, mesmo que essa seja desenfreada e sem preparo.
Estar se tornou obrigação , mas não vejo "Ser" aqui.
Estar aqui, estar lá, com eles, na reunião, no grupo, presente no debate e pela velocidade da luz.
Não se fica mais só.
Me refiro ao só de necessidade , de reflexão, de relaxamento.
O só para se auto desvendar é algo exótico e diria até mesmo nulo na sociedade atual.
Se você fica só tem problema, mas se não consegue sair de perto das pessoas tem dependência, carência.
Mas, cadê a percepção que estar junto também pode representar estar só?
Várias cabeças pensantes , mas cada uma na direção oposta , anti sinergia . Cada uma no EU, tão poucas em NÓS.
O lema da era é a suposta interação. Sim, suposta porque após a cotidiana agenda atarefada o momento só que se tem serve apenas para tentar organizar o lado pessoal "eu" que ficou esquecido ou mesmo para organizar o que não deu tempo de fazer em "tempo estabelecido".
As informações escorrem via papel e tela , pulam de outdoors, invadem o espaço sonoro pelo carro de som.
Informações brotam ! Há mil edições de um mesmo assunto, revistas, revisadas, acumuladas nas estantes.
Mesmo tema , pouco contraste. Os mesmos olhares , pouca construção.
Viramos papagaios de pirata nos ombros da tecnologia.
Enrolados estamos nas teclas, telas interativas, parafusos apertados, cada vez mais apertados no enfoque da segurança, crise, anexos.
Os parafusos fictícios (que na biologia possuem outra nomeclatura) pressionam os canais de cada cabeça, com a força de um espremedor moderno, daqueles que produzem todo e qualquer tipo de suco .
Apertam as idéias para que o espaço contemple mais informação.
Preenchem até o espaço reservado para o que deveria ser um ócio criativo.
Enfoque na produtividade e nem sempre na criação.
Se produz sem criação?
Penso que não.
Temos uma falsa cartela de utilitários que nos dita o padrão de qual botão apertar. Está pronto , para que pensar ? Lá se foi a capacidade...
Print screen ? CTRL C + CTRL V?
Ficamos Imersos na substância dos afazeres por obrigação.
Imersos até o gargalo !
O ar fica denso em camadas de vozes.
Existe uma aritmia temporal, transtorno, sinapses intensas e atenção desfocada do foco .Do que deveria ser o foco.
Vejo corpos que carregam capacidades surpreendentes mas que estão inatingíveis diante da terrena lista de prioridades .
Corpos suspensos pela malha digital.
Pensam levitar, mas nem mesmo conseguiram tocar o chão descalços com medo das pedras.
O chão que foi dado na queda imortal.
Há medo de sujar os pés , mas há vontade de voar a qualquer custo, ainda que seja pela corda errada, roída ou pela asa quebrada.
O cordão umbilical não é e nunca foi cortado.Refiro-me ao que nos supre de energia.
Tal cordão permanece oculto porque assim pensam.Visível apenas pelas almas que ainda aqui se desprendem da epiderme .
Corpos e cabeças que embora pareçam estar cheias , sentem -se vazias, ocas ....
Desfragmentadas .

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