sábado

A correria para o nada - Minhocas Urbanas e Modernas



Estive em uma odisséia por São Paulo Capital e como sempre, observei e observei cada segundo meu lá.
As pessoas, os espaços, o cotidiano daquelas pessoas e o motivo de tantos espaços e passos .Passos assustadoramente apressados e desconcertados, desconexos, sem direção.
Fazia muito tempo que eu não ia para São Paulo Capital e quando fui,confesso ter me assustado !
Moro em cidade praiana, daquelas que concedem passeios calmos de chinelo e vestido ao vento com direito a paisagem poema e por isso a correria insana de SP me causou tamanha surpresa .
A primeira coisa que me chamou atenção foram os semblantes de preocupação. Todos com ar de vazio e frieza. Sem sorrisos. Alguns até ousavam dar risadas mas entre o grupo em que estavam.
Pedir uma informação em SP também é gesto de coragem .
Você pergunta e a pessoa te olha com surpresa por você não saber ou mesmo por você ter ido falar com ela ...
É estranho pensar que as pessoas se surpreendem pelo ato natural presente em todo ser humano que é a  capacidade de comunicação . Ninguém mais quer se comunicar .Há medo.
Colocam fones e se fecham em mundos distantes.Ignoram qualquer sensação alheia ou olhar , até de interesse. Ficam sós e motivam a solidão a cada acordar do despertador .
São atletas urbanos que disputam a modalidade "Corrida de Metrô"
Uma escada rolante feita para facilitar o acesso agora tem "mão".Isso, mão como mão de carro .
Mantenha-se a direita e deixe a esquerda livre para os apressados que não esperam, correm enlouquecidos pelos degraus em movimento .
Confesso que daqui a pouco nós teremos que implantar marchas até pra poder parar e conversar, ou mesmo pra sentar, talvez até tenhamos que ter um porta mala acoplado e assim carregarmos nossos pertences sem a necessidade de bolsas. É, acho que então seremos robôs e nada mais.
Na verdade, já somos um pouco ...
Outra coisa bem interessante é que mesmo com os bancos vazios do metrô, porque não era horário de "pico", as pessoas correm dentro do trem para sentar , como uma espécie de competição ou brincadeira de " corre cutia" .Eu senti isso!
Competição do nada para o nada .
O prêmio? bom , talvez seja a frieza do banco bege ou azul ( se você sentar errôneamente nos assentos preferenciais )
Eu achei engraçado ver essa correria e no meu marasmo de praiana , fiquei vidrada em cada gesto.
Pessoas escondidas abaixo do solo como minhocas modernas .
É assim que ví aquele pessoal apressado.
A diferença é que a minhoca da terra cria um solo fértil e as pessoas nem sempre .
Talvez a pressa atrapalhe e isso impeça o cultivo de sorrisos e olhares, de palavras carinhosas e bom senso.
Algumas coisas me chamaram atenção com  maior intensidade  : 3 japonesas trançando pulseiras com fitas coloridas e desligadas da pressa. Cada qual em seu assento bege. Uma mulher lia seu livro em pé e sem segurar, apesar do movimento que o metrô faz . Ela seguia lendo um livro de FRITJOF CAPRA, o que evidenciava que realmente não se mantinha no planeta Terra .
Parece-me, que apesar da correria, há os que sabem caminhar e ainda assim conseguem cumprir com seus compromissos sem frieza ou distância .
Eu respeito a necessidade de horários , mas não aceito como normal o que vi .
O ser humano pode correr, mas pode tentar transformar essa correria em algo mais integrado, respeitando o outro que com a idade já não caminha tão rápido ou aquele que simplemente não sabe como chegar.
O relógio enlouquece e ninguém me convence que tal correria é saudável .
Pode ser necessária para a sobrevivência financeira da maioria , mas isso não significa que é saudável e não é mesmo !
Eu gosto de aumentar meu ritmo, mas prefiro aumentar dançando ...
De acordo com algumas coisa que lí de física , saímos do nada e retornamos ao mesmo ponto , ainda que aparentemente seja diferente .
Na hora em que ví todo esse tufão de gente apressada, lembrei de tal estudo da física .Todos os dias correm e todos os dias retornam ao mesmo local e isso já é programação interna . Coisa robôtica .
Talvez, da mesma forma que eu tenha estranhado esses comportamentos , as mesmas pessoas estranhem o meu caminhar lento.O meu caminhar por caminhar ainda que sem objetivo ou olhares ao relógio .
Tenho sim meus horários e rotina, carrego minhas pastas e guarda - chuva, mas a diferença reside no fato de que gosto de contemplar e entender até o caminho que me leva às minhas obrigações , mesmo porque sem saber o que me rodeia todos os dias, como posso criar projetos para lugares distantes ?
Do meu ponto inicial eu sigo para outro ponto. Tenho a audácia de contrariar a física porque até o mesmo caminho é diferente . O que faz ser diferente é a capacidade de olhar cada detalhe e tirar de cada detalhe um motivo de conexão com algo maior .Por exemplo : "Isso acontece porque aquilo precisa existir ..."
Seres Urbanos Desconexos, ainda que CONECTADOS ...
É exatamente assim que minha odisséia paulista foi classificada. 

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