Aquela pessoa singela, de livro na mão , avental empoeirado de giz, saia bem cedo pela manhã , passava horas em trânsito, horas em pontos, tomava até embarcações, ia a pé , de carroça também , de carona talvez...
Chegava ao grande prédio com sua missão desenhada, com a rotina organizada, com a hora marcada.
Percorria a imensidão do pátio, acolhendo aquele que pra ele corria, acenando para aqueles, que sentados sorriam.
Pela porta ingressava para expor o pensamento, a idéia, a citação, o trecho do poema.
Pegava a mão do que mal sabia traçar linhas e também daquele que já sabia, mas desejava saber mais .
Folheava o livro velho, gasto pelas horas de troca , na busca de ampliar visões, de inquietar o pensamento, sacudir a alma, enobrecer a esperança.
Por minutos, horas, dias, anos, essa foi sua Obra.
Passou para o filho , do filho ao neto, incentivou os amigos, a tão bela e necessária descoberta do Saber.
Adocicou por toda sua vida os ouvidos ansiosos daqueles que aguardavam um novo desafio e mesmo a chance de falar de sí, do sonho, da idéia.
Não era o metal que lhe dava a ação, era a importância , a beleza da profissão.
O respeito, a gratidão e o prazer de ensinar circundava a vida do que transferia saberes.
Era o amigo, tinha com ele um pouco mais da verdade , o motivo do tentar , o estímulo do criar .
Semeador de gerações .
Antes meu avô, depois meu pai, eu, meus irmãos, meus amigos, você, o outro e principalmente Eles , que esqueceram .Sim, Eles esqueceram !
Esqueceram que poder não significa melhoria, tampouco boa educação .
Eles, que esqueceram que manipulação é o inverso de democracia.
Eles que esqueceram que o pensar forma cidadania e que é a cidadania que concede a este mundo capacidade de vivência.
Eles que dão aos irmãos universais apenas a sobrevivência, através dos discursos comprados, da prolixidade, do descaso .Sobreviver é muito pouco aos que aprenderam que a vida é integração.
Aquele que ensinava e hoje não consegue ensinar mais porque é coagido, porque é humilhado, porque é colocado abaixo de qualquer grau de importância , morreu. Sim, morreu abraçado ao seu livro antigo, morreu diante do verso literário, da roda filosófica, morreu.
Morreu com ele a tradição mais sagrada que existe: Ensinar.
Em sua lápide ficou: " Fui eu que te ensinei, que ensinei a Eles e Eles esqueceram ... "
Se tens poder, alguém te deu as primeiras letras e se alguém te deu essas letras , penso eu que não era para escrever "Atirem neles, lancem bombas de efeito moral!"
Ora ! Por favor, que moral é essa que machuca? Que mata? Que assusta?
Quem não tem moralidade não pode decidir espalhar "MORAL" e sabe disso. Sabe tanto, que só sabe fazer isso pela imposição, pela força.
Aquele Educador morreu ...
Aquele que ensinava, cantava um Hino Nacional orgulhoso.Hoje, em um País que atira em quem ensina , Fica dificil dizer Pátria Amada !
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