quarta-feira

Retorna aquilo que te pertence ou o que te pertence te toma de volta ...



Intrigante, essa é a palavra !
Com o passar dos dias muita coisa fica para trás , inacabadas ou acabadas de vez.Interrompidas por questões tempestuosas ou por questões de calmaria. Tragadas pela rotina ou expulsas pela brusca mudança.Tanto faz  ! 
Coisas ficam para trás , sempre ficam ...
O que fica, acaba por ir conosco através da memória e se for algo sagrado, vai conosco pela conexão do Absoluto. Uma vez dadas as mãos, laçadas estão...
A vida segue com ar de novidade, mas com bases de antiguidade.
Segue na espiral da transformação e inevitavelmente , hora ou outra, a espiral contém aquilo que tentou ser incontido.
Somos nós nas idas e vindas e na busca constante do melhor, do menos (quando se tem demais), do mais belo (quando o cenário desagrada), do mais sutil , do mais diferente, do mais perto ou do mais distante.
Aquilo que foi teu permanece.
Permanece rodando no mesmo ciclo, esbarra, faz lembrar, some de novo, vira lembrança.
Aquilo que foi teu espera a volta e a conclusão, espera a continuidade ou o recomeço.
Aquilo que foi teu é teu e sempre será.
Deixa de ser para ser de vez , ser mais e talvez para sempre, porque o para sempre é o movimento de giro, o movimento que deixa em transe, o movimento que centraliza e que une, o mesmo movimento que afasta quando necessário. O que foi teu e é teu gira ...
A partida se dá no mesmo impulso da volta.
A vida baila como nas vestes sufis?
Penso ser assim o ciclo e assim temos o que era nosso e deixamos de ter o que não era para ser (ainda).
Muita coisa acontece e te leva de volta , apesar de tentar deixar, você retorna aquilo que te pertence e o que te pertence te toma de volta... 
O que é teu te toma de volta porque és um labirinto em sí e te pertence porque você escolheu .
Escolheu e precisa assumir, nada mais, nada além, sempre o mesmo em tempos diferentes, em dimensões opostas, mas sempre te toma de volta , te toma de volta talvez, pelas mãos das fiandeiras do destino que restauram toda a teia da vida e a teia te toma de volta ! Sempre te toma de volta ...

terça-feira

A lição da 1ª lata de Toddy


Ontem, na cozinha, eu conversava com minha mãe sobre a embalagem de nescau que está sendo comercializada agora.Eles estão recolocando as estampas das primeiras latas nas latas atuais (aquelas contorcidas e estranhas - risos).Interessante é que, apesar de já conhecer o sabor do nescau, fui degustar o produto só pelo rótulo "novo", da época em que eu era criança.Claro, o gosto continua igual, comum.O que fez a diferença foi que o rótulo deu um ar de novidade e isso é uma estratégia e tanto.Sábia estratégia, eu diria , porque mexe com todos que passaram pelos diversos rótulos do nescau e tomavam o produto pela manhã antes de ir à escola ou no fim da tarde, em um café com a família.
É uma espécie de resgate da infância através de um simples rótulo, porque lembramos dos fatos e momentos.
Gostoso isso !
Minha mãe também acabou viajando no tempo e comentou sobre a dificuldade de tomar um achocolatado na época em que foi criança. Bem diferente de muitos de nós, que tínhamos o produto em casa porque fazia parte da lista de compras, nossos pais tinham o que era necessário , o que não era o caso de achocolatados.
Ela lembrou com tamanha alegria, do dia em que seu tio, após trabalhar muito na colheita, juntou dinheiro e foi para a cidade, onde comprou uma lata de Toddy e voltou correndo para casa, com o objetivo de DIVIDIR aquele sabor e o momento de descoberta.
Pode parecer algo bobo hoje em dia, para muitos, mesmo porque nossa sociedade perdeu em meio ao individualismo, a ação tão importante que é dividir. Porém, é uma ação que nunca deixou de ser necessária e nunca deixou de ser responsabilidade humana.
Além da questão do dividir o mínimo que se tinha, minha mãe apontou ainda a questão da descoberta, da novidade, do encanto pelo momento de estar com quem amamos para um cafézinho,em meio a uma tarde chuvosa para comer algum pedacinho de bolo e jogar conversa fora.A simples lata de Toddy moveu esse encontro e fascinou as crianças que desejavam descobrir o sabor .
A lata de Toddy também proporcionou o uso da criatividade porque eles imaginaram como alguém podia fazer algo tão gostoso!Como que num simples misturar, algo novo surgia ? (leite de chocolate).
Perdemos o interesse pelo simples e até gostamos de novidades, mas apenas até descobrirmos o que é e acumularmos em nossas estantes mais um produto, mais um equipamento tecnológico e tudo isso porque o jornal da loja disse que estava em promoção. 
Não somos movidos pela novidade benéfica que é aquela que estimula a descoberta constante .Não entendemos que o valor escondido em uma descoberta é o de aprender, sempre !
O que adquirimos, raramente envolve o pensamento de ficar entre quem amamos em momentos de conversa ou de sabores adocicados .O que adquirimos envolve apenas o ter e não o ser.
Sabe, fiquei pensando...
Minha mãe guarda com tanto carinho o momento proporcionado pela primeira lata de Toddy e guarda também os valores cedidos naquele momento pela família, que me maravilhei diante disso !
É como se uma lata pudesse conter a mágica da aproximação.
Tomara que as latas de nescau que estão sendo resgatadas, provoquem mais reencontros, observação e aprendizado em todos aqueles que as notarem.
Tomara mesmo, que todos possam viajar para a infância e encontrar a lata com a mágica da aproximação, seja ela de nescau, toddy, atum e até mesmo sardinha ...


sábado

Peterpaniana




Não represento senão aquilo que gosto, que desgosto, que almejo,que tenho, que amo ou desprezo.
Um invólucro pesado em capacidade,denso em conteúdo e leve em conexão.
Adaptável, maleável e nada tendencioso .
Talvez móvel pela transformação,impura pela ousadia de expandir além da capa.
Infiel quando obrigada a trair-me pela comum - idade do fazer por fazer, do fazer apenas pela necessidade e não pelo gostar de fato. 
Gosto das obras e de ver nas ações pedaços de mim.
O que cumpre apenas  a tarefa me cansa, me desfaz e me aniquila diante da falta de fusão entre habilidades e competências, que atualmente dá lugar ao comodismo situacional.Tapa-se o defeito, mas não se conserta a fonte da falha.Isso em quase tudo e como uma constante.
Paradoxo do tempo é ir e voltar na mesma trilha e ainda assim permanecer leal a sí mesmo e ao universo de dons que nos compõe.Ir e voltar sem sair do lugar e ainda assim viajar pelo universo de oportunidades .
Por tantos menos e por saber que há como existir mais, mantenho-me "Peterpaniana", onde Nunca é apenas a ponte e não a Terra como fim.
A Terra vivenciada e explorada é a do Sempre e Tanto, possível e necessário.
Peterpaniana na linguagem que zela pela infantilidade de quem ainda acredita em algumas histórias contadas em dia de chuva.
Antes, tão ocupada para ver que perdidos todos estamos e o que muda é a capacidade de perceber o quanto se está perdido e como se pode alterar um destino sem graça para algo mais encantador e dinâmico.
Existem ganchos que puxam a cada aventura, mas não são mãos fortes a ponto de fazer recuar.
Não há uma única fada que faça pirraça e assim sigo com a viagem .
Talvez,existam apenas luzes,que como canteiros ornamentados guiam rumo ao nada distante e ao tudo próximo.
Peterpaniana inventada, como o termo dado pelo conto infantil
Peterpaniana, porque assume com todos os riscos que crescer só é bom externamente, já que molda e faz o tecido cair perfeitamente diante da curva.
Internamente é bom viver voando e esperando na janela a magia acontecer !
Crescer é coisa que faz parte, tornar-se coisa é concordar que uma parte morta se desprende para um vácuo de cobranças sem sentido , sem objetivos e justificativas. 
Cobra-se atitudes pela mania e a mania é dada pelos que desistiram de tentar , mantendo apenas como rota importante, a cinzenta manhã de qualquer segunda-feira.
Peterpanianos ou não, importante mesmo é desfazer os mal entendidos que ocorrem diante do coração e manter aquela inocência de ver beleza ainda que seja no drama.
Peterpaniana sou e ainda busco aquele sapato pontudo e o chapéu que combine com o traje de constante e inconstante sonhadora ...



sexta-feira

Perguntaram-me sobre sonhos...




Hoje me questionaram sobre sonhos .
Me questionaram sobre formas de realizar um sonho e formas de intervenção quando um sonho "sonha demais"
Eu acredito que sonho é pré projeto, é necessário para grandes mudanças e para que exista transformação.
Sem sonhos seríamos tão vazios, tão incapazes de ver beleza que acabaríamos morrendo em vida.
Penso que a intervenção de um sonho deve ser feita quando este sonho passa a tomar medidas de ambição e ganância, quando é pautado em egoísmo e tem como base o mal estar de outros.Uma intervenção é necessária quando o sonhador esquece de realizar o presente porque apenas se desloca para um futuro.
Sabemos bem que não há nada neste planeta que aconteça sem ligações. Antes do presente, um passado e depois de um presente, um futuro.
Intervenções em sonhos acontecem por elementos que fogem das mãos e pela falta de fé no que se deseja. Onde existe muita dúvida, há espaço para recuos e medo, o que não significa que a dúvida seja ruim, é pela dúvida que se reflete, repensa, mas quando a intensidade da dúvida começa a desfazer belas idéias é porque dúvida virou doença, piração, perseguição consigo mesmo.
Eu acredito nos sonhos, embora às vezes desista no meio do caminho.Desistência tem relação direta com outras necessidades.Chamaria mais de adiamento e nesse meio tempo novos sonhos surgem.
No meio do caminho existem outros caminhos e muitas vezes vale a pena dar uma esticadinha e conhecer novas paisagens, pegar uma estrada vicinal e aprender um pouco mais antes da prática, da concretização do sonho em sí !
Sonhar é bom, é preciso, é mágico, divino e principalmente conexão com aquele silêncio gostoso que temos dentro do coração.
Sonhar é fundamental, assim como fundamental é respirar.
Sonho é capacidade  e pré-disposição para a vida de verdade e não para uma vida representada.
Sonho é transgredir a inércia que o ceticismo nos dá e justamente por isso que eu sonho a cada segundo e desligo as luzes excessivas de um ponto gasto, para alcançar outras nuances.
Todo sonho posto e exposto em uma sociedade acostumada com a frieza de manuais e rotinas, é visto como utopia, ideologia,fantasia, e tantas outras "ias" que existem .
Tem sempre poréns e isso também é normal, mas um porém pode virar apenas uma curva para evitar uma pancada na chegada, sem o preparo necessário.
Me perguntaram se é importante sonhar ...
Sonho não se pergunta,não se questiona, se tem.
Não se bloqueia, permite.
Sonhos são as lanternas de seda,coloridas, em um cenário "supostamente" comum.
Sonhos são as células deste universo, somos nós!
Alguma dúvida, ainda?







quinta-feira

ah! o amor venceu e eu te amo porque te amo!




Eu entendi tudo sabe?
Tem amor e tem paixão, tem amizade e doação e tem também confusão .
Os dias foram bem intensos e cheios de grandes emoções, mas, no fim destes dias o céu se encheu de cor e porque eu quis ver, quis ver de novo um céu ensolarado e uma noite cheia de estrelas.
Eu entendi que tem coisas que vem para apertar o coração e machucar, coisas  que causam uma explosão de emoções confusas e chatas.A diferença está em transformar a explosão em um lindo show pirotécnico e foi isso, justamente isso que aconteceu.Eu desejei ver beleza e nenhuma obstrução no caminho.
Nada se faz sozinho e com a doçura das palavras (após os cortes que as mesmas palavras causaram) tudo abrandou e junto com a alma doce que divido meus dias, ainda que seja através de um aparelho celular, a proximidade foi concretizada e a verdade mais encantadora encontrada.
Aprendi que junto com a alma doce que tenho o privilégio de ter,a vida pode ser maravilhosa e que passado passa e de um jeito ou de outro empurra e contorce, molda e ajuda o presente.
O mundo e todo mundo tem suas paixões, mas eu tenho amor, assim como todos e tudo.
Esse amor venceu e eu não preciso de razões para um eu te amo.
Amamos e pronto.O te amo é porque te amo e pronto!
Eu te amo para mim é bom dia, boa tarde e boa noite e até boa madrugada, absolutamente todos os dias!
Mas, esse relicário todo é feito para aquele que encontrou comigo a magia que existe até na turbulência.
Amor é alquimia e isso inclui transformar coisas ruins em coisas melhores, desencontros em encontros duradouros e dois corações em um só.
Ah, o amor vence, sempre vencerá e não se trata de novela ou filme.
É possível,porque é  verdadeiro e a verdade entre dois irônicos é melhor que a ilusão de palavras tolas ditas ao vento, no impulso de uma vaga lembrança.
Somos assim, seres encantados e encantadores quando queremos .
Quando amamos, não podemos deixar que nada leve de nós o que nos faz feliz. 
Nada, absolutamente nada.
Eu sou firme com o que realmente tenho e cuido dos meus amores com a intensidade de uma explosão solar.Queimo  o que nos afasta e ilumino o que nos melhora.
O amor vence porque não há missão mais sagrada, além dessa: amar !
Ah! o amor venceu como previsto nas estrelas e eu te amo porque te amo...

quarta-feira

Era uma vez uma menina que gostava de olhar



Era uma vez uma menina que cresceu olhando tudo e olhava tanto, tanto e tanto que acabou vendo demais e de certa forma entendendo um pouco de tudo .
Ela destrinchava a pequena margarida, folha a folha num bem me quer , mal me quer, só para entender como a pétala ficava presa sem cair por tantos dias.Óbvio, que para isso alguma flor acabava sendo desfeita.
A menina olhava o dia e a noite comparando acontecimentos, somando datas e calculando as horas para ver se existia alguma mágica em tudo isso ou se era apenas um cotidiano contado, inventado pelo Homem.
Ela somava e diminuía as placas dos carros para ver se encontrava algum enigma escondido, formava palavras com as letras desconexas que via por ai, tentava dar nome aos pingos de chuva, mas eles eram todos iguais e ficava bem complicado identificá-los depois .
Ela olhava de perto as formigas do jardim e as guardava na caixa vazia de fita cassete e até na caixa de fósforo para tentar entender como seres tão pequenos carregavam pedaços de folhas tão gigantes!
Ela misturava alimentos aleatoriamente só para tentar descobrir uma receita imbatível, daquela que um dia poderia sair na revista.
A menina gostava de cheiro doce e por isso esmagava plantas com perfume ou tirava perfume de flor estranha com a esperança de que o melhor cheiro do mundo pudesse finalmente ser encontrado.
Nada satisfeita, ela lia todos os livros na busca das mais loucas respostas e depois relia para tentar formular novas perguntas (para os outros).
Picotava folhas coloridas e antes de qualquer papo de sustentabilidade tentava criar um papel irresistivelmente colorido e diferente.
Ela fechava os olhos e imaginava um clipe musical ou um filme consigo mesma, vestida de heroína,fada, bruxa, menina perdida, vampira.
Todas as agendas da menina viravam diários, longos diários e ela nunca olhava para os diários finos , cor de rosa com cadeado. Bom, na verdade ela olhava , mas ela achava os mesmos finos demais para comportar trezentos e sessenta e cinco dias de história e alguns dias a mais porque ela olhava também para o espaço fora do calendário e sempre acabava criando mais uma data.
A menina gostava tanto de olhar tudo que aprendeu muita coisa além do que é normal aprender .Ela acreditava firmemente na percepção, na observação e descoberta.
Talvez se tivesse sido cientista maluca, teria conseguido pelo menos criar sonhos engarrafados, caleidoscópio de  sonhos, realizações em sachê, óculos mágico...
Um dia a menina que gostava de olhar cresceu e algumas vendas começaram a ser colocadas diante dela.
Um adulto que olha é bisbilhoteiro.
Uma criança que quer ver é curiosa ...
Quanta contradição !
Justamente quando ficamos cegos pelas vendas sociais é que o ato de olhar deveria ser estimulado e no entanto ...
A menina ficou triste, muito triste por ter perdido todo o seu dom de observar e por mais que ela tentasse não conseguia encontrar uma saída, um caminho de volta.
Pelos outros ela deixou de ver e por ela também que cedeu a essa estranha normalidade.
Como tudo tem "certo" limite, ela acordou cansada e resolveu rasgar as vendas. Ela desfiou as mais grossas feitas de fios de imposição, cortou as que tinham algum tecido que possivelmente poderia virar algo melhor e amassou e jogou foras as feitas de papel pela sua fragilidade.
Ela voltou a olhar e foi nesse momento que se viu no espellho ...
Entendeu que vendas foram criadas para esconder quem somos, com todos os defeitos, beleza e monstruosidade natural a cada ser humano.
Entendeu que poderia fazer caretas e brincar consigo mesma, que poderia simplesmente fechar os olhos para não se ver , se assim desejasse.
Mas, principalmente compreendeu que coisas são apenas adjetivos inventados e pessoas são elementos contraditórios que se agarram em padrões considerados "saudáveis e normais" para sobreviver ...
A menina olhou fundo desta vez e resolveu ser exatamente aquilo que viu: um emaranhado de sonhos desfeitos, mas que com novos olhares ainda poderão ser resgatados e realizados.
As vendas? bom, essas nunca mais foram colocadas porque ela aprendeu a pegar só aquilo que lhe agrada , o que não significa que não foram entregues, sempre são. As vendas estão na gaveta e algumas até foram usadas para polir as janelas para que a menina olhasse ainda mais ...


terça-feira

E assim resolvi deixar ...



Minha personalidade me consome às vezes, pela sua mania detalhista de ver e compreender as coisas e nesse mesmo processo, minha personalidade me faz fiel ao que sou, ainda que as ações geradas pelo Sou nem sempre sejam as melhores.Não são as melhores para quem vê de fora, mas com sincera dose de egoísmo,me faz bem manter um ponto fixo e não desviar do caminho, do objetivo.Esse egoísmo sobre o Sou me faz realizar o que preciso e quando preciso.
Ao longo do tempo, os detalhes ressaltados pela minha personalidade criaram em mim algumas cicatrizes em alto relevo, impossíveis de esconder, mesmo que alguma nuance de sorriso faça clarear o espaço.
Por muito tempo eu risquei com ponta de tesoura a cicatriz e riscava porque acreditava que ela poderia sumir quando cortada aos poucos.Acabei por intensificar algo.
Sabe, não adianta tentar retirar o feito e nem carregar nas costas um mundo de pré-ocupações.Eu sou expert em remar contra maré, gosto disso porque no fim a maré leva é pro buraco (risos), mas em determinados casos eu optei em pegar meu bote e ir pela terra, em um caminho totalmente novo, ainda que bem difícil e cheio de desníveis.
Eu resolvi deixar porque o que me desce pela garganta rumo ao coração não tem sido bom.É uma dose gelada, um vento frio  que congela qualquer pensamento positivo e eu definitivamente não quero mais isso.
Quando abrimos mão de algumas coisas ,sempre fica um eco, um pedido para que tais coisas retornem e tudo fique como era antes.Eu até poderia ceder, mas eu cansei e resolvi demolir as paredes todas, desentortar as portas e quebrar alguns vidros das janelas, talvez incendiar a proposta de como deve ser para um novo feito.
Talvez eu deixe um abalo na minha estrutura com tal decisão, mas como disse antes, eu não vou navegar por águas cansativas e insalubres .
Se necessário faço as malas dos conceitos, fogueira com a indecisão, dobradura com o concreto só para ter uma visão abstrata da vida.
Se necessário enterro as cores e vivo no clássico.
Não deixarei de ser quem sou, apenas resolvi deixar pegadas ao invés da presença,silêncio ao invés de argumentação,olhos fechados ao invés de observação.
Resolvi deixar porque agora é preciso e antes também foi.
Resolvi deixar assim, de um jeito imaculado, abaixo do véu,sob o céu de estrelas de um quarto e acima da cômoda.
Tempo de deixar e tornar-se além, ainda que seja apenas pela necessidade, pois a calmaria em mim é quase impossível.É impossível porque sou um ser que não compreende sociedade pela estatística e muito menos convivência pelo simples fato de agradar. Quero mais e sou mais em mim.
Meu planeta é seletivo,minhas palavras ardidas a quem tá acostumado com o comum, meu toque é distante porque não consigo pegar aquilo que de fato não desejo ter e não gosto de ter porque é obrigatório, gosto de ter o que me acalenta.
Resolvi deixar para não chatear os que amo, mas novamente com dose de egoísmo sagaz, resolvi deixar para não me chatear...principalmente para não me chatear.






domingo

Construa castelos de areia, mas carregue consigo uma grande caçamba !




Desde o dia do nascimento sonhos são projetados sobre nós, seja pelo nome que nos é dado, que traz consigo algum significado marcante , seja pelo ideal de nossos pais e até de uma família inteira,dependendo da cultura.
Somos espelhos de nossos pais,amigos e amores. 
Nos tornamos o esboço de algo para alguém e da mesma forma projetamos nos que amamos,expectativas .
Sabe, isso não é ruim, pelo contrário, isso é que nos move todos os dias a realizar algo por mais simples que seja.O grande problema não reside na projeção dos sonhos, mas sim no apoio que se tem durante o percurso de realização.
Tantas e tantas vezes idealizamos coisas e esperamos que aqueles que nos acompanham caminhem conosco na mesma direção (não necessariamente no mesmo tipo de sonho, mas pelo menos no apoio, para que dois sonhos diferentes possam integrar uma vida )e isso acaba inexistindo.
Quando ouvimos que são direções opostas, as direções de quem gostamos,nos sentimos só. Pensamos primeiro em egoísmo, em não gostar, pensamos em demasia sempre e inevitavelmente as coisas ruins tentam assombrar primeiro.
Muitas vezes um caminho diferente aproxima, mas em alguns casos, onde já existe distância, tudo fica turvo e ainda mais complicado.
Todos os sonhos não realizados foram castelos de areias e quando desmanchados acabaram por gerar uma quantidade imensa de entulho, poeira.Nunca temos onde colocar, ignoramos, deixamos toda essa barreira atravancando nossa caminhada atual e toda sujeira levanta uma fumaça que nos faz espirrar adiante, tudo, absolutamente tudo que nos faz mal e muitas vezes esse mal estar vem na direção de quem, de alguma forma, ainda que simplista, deseja nos ver bem e nos ajudar.
Eu aprendi uma coisa: não podemos nunca deixar de sonhar, devemos continuar com nossos castelos de areia apesar de pesares, porém, não podemos esquecer que cada construção derrubada nos consome em mais um espaço que poderia estar limpo e dando lugar, por exemplo,a um belo jardim de memórias !
Aprendi que castelos de areia podem e devem ser construídos, mas que junto a eles as grandes caçambas de entulho precisam estar.
Caçambas aptas, prontas a qualquer desabamento, pois só assim evitamos entulhos sentimentais e espirros de maldade ...
Seriam as caçambas a nossa força de vontade e a nossa mudança diante da necessidade ? Creio que sim !
Se for necessário, faça seus castelos longe do mar, apesar da bela vista, mas faça.
Lembre-se que remover caçambas é mais fácil, porque você retira o todo que intoxica ao invés de deixar que todos os dias a poeira se faça e esconda o novo sonho!




sábado

Estranhezas



                                       Olhe bem! Nem tudo é como vê ...

O dia será de nebulosidade, assim disse a previsão do tempo.
Previ antes tantas vezes e isso serviu apenas para intensificar ansiedade e criar monstros de sombras.Optei por não prever e atualmente tenho optado por não sentir. Deixo passar como água de cachoeira, deixo passar a sensação de incômodo por qualquer coisa.
Não sei se é inércia ou comodismo...
Talvez seja só o aprendizado de que o tempo não serve apenas para esmagar os momentos de um dia em 60 minutos.
O tempo abranda tudo e todos,hora ou outra.
Tudo que sentimos, as previsões, o gosto e não gosto, são bolsas pesadas demais para carregar de uma única vez, sem a devida divisão .
O desequilíbrio pode gerar o sei lá de despropósito ou  o não sei de muita dúvida. 
Ambos mostram que coisas fogem das palmas das mãos como a poeira que voa no vento.
O que nos resta? tempo, muito tempo.
Tempo de pensar e tempo de criar, tempo que nos faz temer a ausência do plano que sempre esteve esticado na mesa como um mapa .Tempo que nos dá a sensação de vazio e estranheza .
Estranheza sim, porque tudo fica meio contorcido e incomum.
Você olha e vê o que sempre viu, mas não sabe se o que tinha visto era de fato tudo aquilo que aparentava.Perde a importância ou ganha importância.
Estranheza é argila, massa de modelar, coça na pele, tira o sono ou faz adormecer pesadamente...
Estranheza é cegueira diante de tantos detalhes e também é lupa na mesma proporção.
Estranheza é célula nascendo e célula morrendo, é o fio de cabelo que quebra e aquele que desponta as pontas porque cresce, é a mudança de todos os dias e acontece em todos os seres e dentro de todos os seres, inevitavelmente!
A sensação de estranheza é ruim porque aperta e na mesma intensidade liberta para novas atitudes diante de tudo e todos.
Pode passar rápido ou durar meses ....
É como pegar aquele pedaço de madeira e lixar, lixar, lixar e sempre achar a ponta que precisa ser retirada.
O brilho demora a ser dado porque vem pelo verniz e este quando é passado, apesar de dar um ar de novo, esconde a aspereza, o defeito. O brilho que vende e encanta os olhos vem do mesmo elemento que aprisiona, porque reveste algo naquela forma única e plasmada, adormecida na prateleira de mais um dia de vida.
Estranheza é maluquice e é também a perfeita sanidade .
Você só se encontra pela estranheza e só assim tudo deixa de ser tão estranho...
Irônico isso!

sexta-feira

Um jeito nada carnavalesco ...



Tempo engraçado!
Dias que enfatizam a folia,a fantasia,na mesma medida que promovem a pausa de tudo.
Algumas pessoas saem dispostas a tremer o chão de tanto dançar e outras buscam o mais distante esconderijo.
Eu adoro ver as fantasias clássicas: Pierrot,Colombina,Arlequim e a tão sofisticada e maliciosa fantasia de melindrosa.Gosto apenas de ver, mas não participo do grupo carnavalesco, fico na minha torre de concreto aproveitando para curtir doces cenas de filmes ou agitados dias culinários (criar receitas, testar receitas).
Aproveito apenas a doce rima da marchinha "Vou beijar-te agora" (independente de carnaval) já que a rapunzel urbana já jogou as tranças e laçou um lindo príncipe.  
Gosto de simplesmente observar as loucuras de uns e a arte de outros .
Evito os enredos, afinal de contas eles são repetitivos, ficam como ecos insistentes e isso não me atrai em absolutamente nada .
Os desfiles são a expressão de ostentação e eu não gosto.Tem sempre os mesmos personagens e os mesmos passos coreografados.
Não sou contra a alegria proporcionada pelo carnaval, sou contra os excessos promovidos e sempre tem excessos, não adianta. Pessoas enlouquecem e agem como se o último dia da vida fosse o dia da folia .
Evito, neste período os locais badalados e isso inclui até a padaria que normalmente costumo ir (ela se enche de filas o que em dias "normais" não existe ...) .
Ver qualquer coisa na TV se torna um ato de coragem e de abuso mental, para mim quase como um crime contra a capacidade de raciocinar .Eu respeito demais meus pedidos internos e se meu templo ósseo não permite tal profanação, eu atendo com todo carinho !
O DVD trabalha demais nesse período, é ele que me livra do excesso de cores porque embora eu goste das cores, eu gosto delas em nuances mais leves e adequadas ao meu jeito de ser.
Da minha torre eu ouço as batidas de um pequeno carnaval , de bairro mesmo, mas tais batidas logo cessam porque eu prefiro adormecer depois de um dia de produção interna e de sossego .
Meu jeito não é nada carnavalesco , é um jeito bucólico, introspectivo e contemplador.

Como disse certo escrito de Francisco Faus ( achei em um site que cito no fim desta postagem)  a respeito de Guimarães Rosa, concedendo ao mesmo o título de "Transparente Contemplador"

"...Interna-se na contemplação de um mundo em que nada é igual. Uma sensação de riqueza cósmica se experimenta perante cada um dos seus livros. Quer o mundo quer a vida resistem à apreensão e à classificação. Nada pode cristalizar-se em moldes que aprisionem porque, para além das aparências, continua a abrir-se um poço sem fundo."

Engraçado, porque a definição que ele deu de contemplador é exatamente o que penso sobre meu jeito de ser e sobre o jeito de ser de muitas outras pessoas (até das que curtem um badalado carnaval).
Meu jeito nada carnavalesco apenas poetiza o carnaval e talvez seja isso que mantém o universo neste pequeno equilíbrio : os que gostam muito de algo e os que não gostam !
Tenho um jeito nada carnavalesco de ser e não tenho ritmo para batucadas.
Meu ritmo é leve como um mantra e se agita com a sinfonia e a música clássica.
Meu carnaval reside em Veneza e isso não é um jeito esnobe de ser, mas envolve o jeito clássico de sonhar a vida...
Talvez pelas lendas e histórias, um carnaval veneziano me atrai mais .
Que viva a folia para os foliões !
Mas, que permaneça a calmaria aos seres fugitivos desse período conturbado ...
Que exista para ambos consciência .Isso basta .
Meus confetes são aqueles de doce, comestíveis, uma delícia que lembra infância !
Minha serpentina é a linha traçada pela caneta quando escrevo meus devaneios em um rascunho antes da explanação online.
Minha fantasia é um belo pijama ou um vestido leve se o dia incluir sol .
Minha companhia :meu amor e meus amores ,
Meu carnaval tem um jeito nada carnavalesco de ser e ainda assim eu comemoro porque ele dura o ano todo sem o estigma de ser o último dia de vida !


Site de consulta citado na postagem : http://esplanada.org.br/blog-do-ivan/126-joao-guimaraes-rosa-o-transparente-contemplador

terça-feira

Diálogos com anjos e demônios próprios , as visões delineadas com título de loucura...




Em uma noite aparentemente comum eu me deparei de forma brusca com uma grande questão a ser respondida, questão pesquisada por tantos outros e até colocada como a grande questão da humanidade, o grande segredo,a grande pauta da missão, o título do documentário,da revista, do cd de new age, do espaço holístico, do curso do gurú...
Tanto faz !
A grande questão a que me refiro é  "Quem sou".
De todos os dias vividos e diários encantados eu tirei partes, que fazem parte de mim . Partes que ficaram apenas na folha decorada do papel como um vir à ser e partes que como imãs se acoplaram em mim.Partes que roubei descaradamente de outros, porque o que vejo de bom em alguém procuro manter em mim, partes que eu quis com tanta força retirar e apenas saíram em fragmentos, partes e frases mal escritas para contar o efeito da ruptura .
Todos os dias coleto as esmeraldas de portais sagrados, os rubis de uma fechadura imaginária e construo grandes pontes de pedras. Encontro areias em muitas praias e crio castelos gigantes decorados com as conchas que a maré trouxe...
Crio recantos no meio de desencantos, cria encantos no canto da árvore como altar, canto os mantras e grito, se necessário for, pra libertar.Talvez até pra brigar ...
Todo mundo briga e isso não representa maldade.Todo mundo arde em chamas e chamas ardem na boca do estômago diante da ansiedade, todo mundo desdenha e depois vai comprar, porque todo mundo é desenho inacabado, todo mundo é linha com algum interesse no final e não há uma linha sequer, neste universo inteiro, que ao ser olhada pela lupa celestial, não tenha porosidade, fios desfiados, nós.
Não há linha sem um desnível e não existe prumo perfeito...
Sabendo de tudo isso,eu devastei a densidade que tenho em mim. Devastei com as mãos no espinho pra cortar, com os pés expostos na brasa, no gelo,no vidro...
Deparei-me com a porta mais alta do dia mais tenso.Encontrei a escada mais florida do dia mais doce, a janela mais suja do dia mais triste, o portão mais colorido do dia mais feliz .
Em cada espaço,uma de mim.
Uma celeste, celestial e outra demoníaca, totalmente passional .
Com todas elas havia tantos outros ...
Tantos bons e tantos tão ruins !
Sempre deixei passar tantas de mim, as boas e as ruins. Sempre as deixei passar sem falar um simples olá! como vai ? Sempre deixei passar por causa do olhar que me davam: as mais carinhosas eram só contemplação e as mais raivosas só a fúria de quem petrifica pela frieza.Sempre deixei passar..
No começo não sabia do caminho e de tantas portas em mim, não sabia da composição de tantas em mim e de mim assim .
O medo ou a ignorância ? Não dá pra saber em exato, nada é exato .
Talvez eu mesma não desejasse saber tudo de mim, nunca se sabe de que lado se pode gostar mais !
É verdade !
Tem gente que gosta de seus demônios porque eles nunca são totalmente ruins ...
são sagazes e manipuladores , mas sabem chegar a isso com grande destreza , portanto são espertos e capazes e isso a gente também precisa enquanto seres viventes neste plano. Algumas doses de esperteza são como links estratégicos a novas páginas e novas histórias .
Outros preferem seus anjos com toda calmaria e paciência, com toda luz dourada .Seres perfeitos e que nos dão o conceito de bondade .A bondade é como elixir. Transcende ...
Mas, em absoluto, nem anjos e nem demônios agem sozinhos. Ambos são parceiros estratégicos. Ambos são frutos de um mesmo fluxo de energia, apenas dividem-se, fragmentam-se , assim como nós sempre fizemos .
Eu resolvi dialogar todos os dias com tudo aquilo que tenho dentro .Todos os dias, com hora marcada e amplo sincerocídio (termo emprestado de alguém que me mata com isso - risos).
Falamos por hora, eu, meus anjos e demônios .
Horas de admiração e repulsa na mesma cápsula, como se fosse um remédio colorido de gripe .
Horas em que eu vejo no espelho a bela face e a feiúra na mesma pessoa e fico grata por isso. Sou partes, quatro partes e sou metade. Metade doçura e metade sarcasmos explícito. 
Hoje sei que posso odiar sim , que posso mudar situações e na mesma medida posso amar tanto!
Posso voar nas asas douradas ou queimar nas chamas de um pensamento tudo que me cerca, todas as idéias e vontades loucas ou abstratas, vontades caras e baratas.Posso chutar um balde e esparramar o que tem dentro ou posso ajudar a secar um chão, transformar espaços vazios em canteiros de flores !
Posso fazer fogueira para Deuses ou fogueira para almas ...
Me transformo em mais de uma.Sou tantas e tanto .
Posso ser mais com quem amo e menos com quem não me faz tanta diferença .Posso ser mais com quem precisa e ser menos com os que muito já tem de mim (porque ainda assim sabem que sou muito, em mim e por eles).
Meus doces demônios e meus doces anjos.Todos eu trato bem , porque todos guiam minha caminhada neste globo azulado e são eles, exatamente eles, que me libertaram do conceito de apenas ser para Ser de verdade .
Quando desejo os vejo e desde criança desejei.
Visões antes delineadas de loucura, hoje pautadas de magia ...
Guardiões do Eu Sou , guardiões de mim , todo o tempo .
Não busco mais definições terrestres e nos grandes escritos.Eles já contaram o que precisavam e foram feitos em uma determinada época .Eu os decifrei e hoje o único manuscrito que exploro atentamente é meu interior .Manuscrito sim, porque tá desenhado nas constelações, no céu e entre todos os planetas, identificados ou não.
Todos os dias faço o ritual de leitura do que sou, do quem sou, acompanhada dos melhores críticos da alma que existem : meus dourados anjos e meus doces demônios ...