Já brinquei de ser bailarina.
Tinha dias cor de rosa, entre fitas de cetim e tules rodados .
Dias na ponta, dias totalmente flex,
Dias de alongar e dias de flexionar ,
A mesma paciência exigida para aprender a sair do chão sem medo em uma simples coreografia compõe as rotinas de todos.Bailarinos ou não...
É preciso voar ainda que a gravidade nos segure (segura mas também solta e é exatamente esse o ponto a ser aproveitado).
A mesma dor na ponta dos dedos por um esforço repetitivo acontece na busca incessante de chegar o mínimo que seja de uma suposta perfeição em qualquer atividade que seja!
O gesto suave, o olhar de foco e o fechar dos olhos por concentração se repete todos os dias ao acordar pelo raio de sol que invade o cristal pendurado no quarto.
Sorriso de alegria com resultados é o sorriso todo dia dado. Sorriso de bom dia ou gratidão.
Quem aprende a ouvir as boas composições sabe quando um ritmo não é bom, por isso aprende a selecionar.
Quem depende do chão para ter equilíbrio sabe o tipo de solo certo a pisar e se é necessário soltar a fita e seguir descalça.
Seguir descalça porque também se cansa, apesar da dança.
Quem dançou sabe que é preciso parceria e apoio para saltos mais altos , mas também sabe que em certas doses, um treino solitário faz bem !
Eu já brinquei de ser bailarina e ví público que avalia, assim também aprendi a me olhar, prestar atenção no movimento para não errar e se o erro vem, com ele vem a necessidade de tentar de novo e de novo, tantas vezes quanto forem necessárias até que se arranque dos olhos atentos um olhar de contemplação.
O mais importante ainda assim não é tirar aprovação de quem nos vê e sim entender o que vemos em nós: o estilo do movimento, a preferência da estação, o volume de som que agrada ou não e com isso tudo construir uma estrada para que não se tropece no que se sabe mas se esquece .
Se houver tropeço, que seja na novidade para gerar um novo comportamento...
Eu aprendi alguns passos.Não todos, porque todos não poderia. Todos os passos pertencem a quem acredita no fim .
Eu? acredito na minha imensidão, tão vasta quanto um deserto e tão intensa quanto um dia de selva com seus galhos emaranhados e lama no chão.
Acredito na profundidade, assim como acredito no mar e melhor que tudo isso, sei que tanto entre as nuvens de um lindo céu ,quanto entre as chamas de um possível inferno, minha dança me salva e me leva longe, exatamente onde devo chegar, no ritmo certo.
Não me assusta (tanto) essa divisão bem e mal, porque de certa forma eu aprendi na ponta do pé a me equilibrar .
Sim, às vezes eu caio , mas eis que a dança também me encorajou a voltar ...
Se perder o foco pelo vórtice que gira, basta um ponto fixar.
Ali, exatamente ali, onde paro, é o local que devo recomeçar ...
Girar, girar e girar...
Com a pressão que vem, é que consigo mudar de lugar !
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