sexta-feira

Dando significado às folhas de outono




Onde está a essência prática das palavras ? No dicionário ?
Onde está a essência divinal ?E o sopro da vida de onde vem ?
Toda essência é soprada ao vento, carregada nas folhas de outono, secas, marrons e decorativas de parques e calçadas.
Como as folhas, a essência existe quieta, espalhada pelos quatro cantos, pelos becos, pelas janelas opostas ao jardim.
O novo vento traz as novas folhas marcadas, delineadas perfeitamente pela mão da Grande Mãe. Em cada linha, entrelinha, implícita está, a essência em detalhe. O verbo que nunca foi dito, apenas emanado pelo sopro criador.
A mesma folha de outono que estala aos pés quando pisamos, range entre suas fibras a palavra de vida.A mesma folha que no verão e na primavera desesperadamente, em verde gritou para chamar atenção, a mesma folha que vibrou em ramos, que fortemente se prendeu aos caules e troncos. A folha que agora mudou, se contorce por secar, unifica a cor, o tom e o ritmo de quem passa acima delas...
A mão que as recolhe com o intuito de limpeza não lê a palavra implícita, a mão que apenas recolhe, arrasta, arrasa e torce a partícula que contém o Universo. E por um momento o Universo inteiro cabe na palma das mãos. Na folha esmagada está o verbo, o desenho da arquitetura celeste, o contorno, a medida, o ajuste, o som.
A folha segue para o saco plástico e umidece. Jogada novamente ao solo, aduba e regenera vida, concede novamente o dom da criação.O ciclo explode no canteiro da calçada, no vaso, recomeça sempre e novamente na terra.
A essência se desfez para então se religar nas fibras, para então se prender a copa . A sombra é dada, o alento exposto por um teto de verbos divinais que só podem ser lidos ao toque suave de mãos que não sentem medo de texturas novas, de mãos que não fogem de espinhos e mesmo das mãos que consideram um arranhão uma nova linha da vida e não uma cicatriz....

Por Val Amores*

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expus meu devaneio , exponha o que achou ? Um beijo na alma *