domingo

Carnaval na torre ,exposta ao girar da margarida ...



Em tempos de folia , ela preferia o silêncio .
Nada de ritmos extremados , nem de apertos muito apertados , de lugares transbordados por multidões .
Em tempos de folia , ela permanecia em sua torre branca, vizinha de outras torres coloridas . Ficava lá confortavelmente oposta ao festejo insano.
Seu confete eram gotas de óleo cintilante que espalhava ao longo da pele , sua máscara era uma massagem gostosa com espuma de sabão floral , sua fantasia não era exótica , tampouco feita de plumas .Era tecido leve , solto no corpo que fazia o ar entrar.
Gostava mesmo das letras , do livro da cabeceira , do bolo feito no final da tarde pra adocicar o dia , isso sim pra ela , era tamanha folia .
Os dias anteriores foram corridos, de loucos deslocamentos, de horários sem fim, de chamadas constantes e ali , naquele espaço de pausa , ela só queria curtir a sí , aos espaços da torre urbana , ao som de algo clássico que não fosse uma marchinha em repetição, mas sim um outro tom de canção ...
Deitada entre espaços coloridos , avistava o teto da torre , lá o girar de uma margarida . As pétalas giravam, giravam rapidamente e ainda assim se podia ver cada pétala moldada .Um vento suave no rosto, no corpo, mesmo que proporcionado pela flor artificial , com titulo técnico de ventilador .
A meia luz, se tinha a sombra ...
Sombra de um arco, passagem, saída do templo que a ela pertencia .
A luz trazida em filetes pelo veiculo que buzinava na rua parecia um raio de sol noturno, que de tempos em tempos, a cada nova ida ou chegada , insistia em voltar .
Ficava, apenas ficava ,ali deitada,serena, eterna , girando em idéias que se uniam a cada passada das pétalas de seu ventilador margarida, fantasiava a lembrança de um antigo e remoto carnaval, daquele que um dia ousou participar e em uma era que por hora não poderia voltar...
Saudade !

Por Val Amores

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