domingo

Uma cisma "Sísmica" ...



Vivemos na ilusão do "plano" seguro, concreto, preso,demarcado.
Oxidamos as engrenagens com o veneno industrial, com o concreto fabricado, com o arame farpado,  com o aço retorcido, com a grade trabalhada, com o vidro jateado.
Preenchemos os vazios com as pontes, mas sem a vontade de céu, a ponte exala apenas a vontade de velocidade para o acesso entre "civilizações".
Mudamos o tom, as cores reais.O verde vira cinza, o azul fica preto.
Despejamos os restos de idéias que borbulham, que queimam e matam tudo o que pela frente encontra.Os restos descem pela tubulação. Degustamos nossos próprios resíduos num copo fabricado.
Abrimos espaços, deixamos tudo opaco porque precisamos "progredir".
Nos desenvolvemos insustentavelmente e ficamos aterrorizados com a falta de sustentação que surge pela regra imutável e natural.
Abalados, sem rumo, sem nada.
O globo avisa, decodifica as mensagens. A cisma permanece , mas não faz mudar a atitude.
O plano modifica, imprevisível como é.
Em conflito interno, como em um grito, se expandem as batidas do coração mais importante : o coração da Terra.
Ele bate, abala, incontrolável.
Modifica e retoma a paisagem original.
Um sismógrafo desenha, como um eletro, a doença, a vida.
As estatísticas ensinam, coloridas, o tamanho, a proporção, o limite , mas a visão ainda ignora as lentes e as ações continuam presas ao fator "progresso".
Tudo se desprende, desaparecemos, esfolamos.
O olhar antes projetista, se arregala . As mãos antes promotoras de ordens seguem ao rosto como uma oração. As mesmas mãos que antes, pela individualidade queriam apenas a ajuda material, pedem a ajuda divina, pedem ajuda do outro.
O corpo curvado em desculpas a Terra, oposto ao corpo que pisa jardins...
Mais um abalo e a pergunta permanece : Será preciso mais uma lição prática para se aprender que a mudança só pode ocorrer em SINERGIA?
Do contrário vira Caos, retratado todo dia por uma cisma sísmica.
E ainda assim, nós continuamos a dizer: Isso ocorreu por "uma falha" na placa.Ou será que não foi por uma falha extremamente HUMANA?

Por Val Amores*

sexta-feira

Dando significado às folhas de outono




Onde está a essência prática das palavras ? No dicionário ?
Onde está a essência divinal ?E o sopro da vida de onde vem ?
Toda essência é soprada ao vento, carregada nas folhas de outono, secas, marrons e decorativas de parques e calçadas.
Como as folhas, a essência existe quieta, espalhada pelos quatro cantos, pelos becos, pelas janelas opostas ao jardim.
O novo vento traz as novas folhas marcadas, delineadas perfeitamente pela mão da Grande Mãe. Em cada linha, entrelinha, implícita está, a essência em detalhe. O verbo que nunca foi dito, apenas emanado pelo sopro criador.
A mesma folha de outono que estala aos pés quando pisamos, range entre suas fibras a palavra de vida.A mesma folha que no verão e na primavera desesperadamente, em verde gritou para chamar atenção, a mesma folha que vibrou em ramos, que fortemente se prendeu aos caules e troncos. A folha que agora mudou, se contorce por secar, unifica a cor, o tom e o ritmo de quem passa acima delas...
A mão que as recolhe com o intuito de limpeza não lê a palavra implícita, a mão que apenas recolhe, arrasta, arrasa e torce a partícula que contém o Universo. E por um momento o Universo inteiro cabe na palma das mãos. Na folha esmagada está o verbo, o desenho da arquitetura celeste, o contorno, a medida, o ajuste, o som.
A folha segue para o saco plástico e umidece. Jogada novamente ao solo, aduba e regenera vida, concede novamente o dom da criação.O ciclo explode no canteiro da calçada, no vaso, recomeça sempre e novamente na terra.
A essência se desfez para então se religar nas fibras, para então se prender a copa . A sombra é dada, o alento exposto por um teto de verbos divinais que só podem ser lidos ao toque suave de mãos que não sentem medo de texturas novas, de mãos que não fogem de espinhos e mesmo das mãos que consideram um arranhão uma nova linha da vida e não uma cicatriz....

Por Val Amores*

domingo

Carnaval na torre ,exposta ao girar da margarida ...



Em tempos de folia , ela preferia o silêncio .
Nada de ritmos extremados , nem de apertos muito apertados , de lugares transbordados por multidões .
Em tempos de folia , ela permanecia em sua torre branca, vizinha de outras torres coloridas . Ficava lá confortavelmente oposta ao festejo insano.
Seu confete eram gotas de óleo cintilante que espalhava ao longo da pele , sua máscara era uma massagem gostosa com espuma de sabão floral , sua fantasia não era exótica , tampouco feita de plumas .Era tecido leve , solto no corpo que fazia o ar entrar.
Gostava mesmo das letras , do livro da cabeceira , do bolo feito no final da tarde pra adocicar o dia , isso sim pra ela , era tamanha folia .
Os dias anteriores foram corridos, de loucos deslocamentos, de horários sem fim, de chamadas constantes e ali , naquele espaço de pausa , ela só queria curtir a sí , aos espaços da torre urbana , ao som de algo clássico que não fosse uma marchinha em repetição, mas sim um outro tom de canção ...
Deitada entre espaços coloridos , avistava o teto da torre , lá o girar de uma margarida . As pétalas giravam, giravam rapidamente e ainda assim se podia ver cada pétala moldada .Um vento suave no rosto, no corpo, mesmo que proporcionado pela flor artificial , com titulo técnico de ventilador .
A meia luz, se tinha a sombra ...
Sombra de um arco, passagem, saída do templo que a ela pertencia .
A luz trazida em filetes pelo veiculo que buzinava na rua parecia um raio de sol noturno, que de tempos em tempos, a cada nova ida ou chegada , insistia em voltar .
Ficava, apenas ficava ,ali deitada,serena, eterna , girando em idéias que se uniam a cada passada das pétalas de seu ventilador margarida, fantasiava a lembrança de um antigo e remoto carnaval, daquele que um dia ousou participar e em uma era que por hora não poderia voltar...
Saudade !

Por Val Amores

sábado

Pela gratidão ao amor amigo

Mãos em Flor
Por Val Amores

O amor amigo é aquele que te faz exuberante . Exuberante através da alma , porque a acende como lamparina em noite escura .O amor amigo explana ainda a capacidade de penetrar no mais profundo jeito de ser , proporcionando a esse, o molde perfeito para convivência . Embora cada um tenha sua personalidade e jeito de ser , o amor amigo ajuda na escultura da vida.
Um vaso sem flor se torna florido pela presença do amor amigo. Palavras são flores , mas palavras rimadas dão ainda mais cor às primeiras flores de uma colheita diária, alicerçada em desdobramentos , em ouvidos atentos , abraços apertados , olás ritmados ...
Perto ou longe , não importa ! O amor amigo é assim , parte de você , necessário em mim .
O amor amigo cria a escada que sobe ao plano acetinado do céu de pureza e luz.
Cintilante como aquelas areias de rio, o amor amigo concede um solo massageador .Massageador ao ego, porque não? O excesso de ego cega , mas o carinho ao ego motiva.Tudo sempre no amor amigo é assim , doce até na medida.
O amor amigo escreve a linha e você prossegue com o texto. Vice- versa , versado ou não. Sem vices , eleitos , ou qualquer tipo de eleição.O amor amigo não pede voto, concede igualdade , espaço, abertura, sinceridade , sinergia .
Pela gratidão terna e eterna ao amor amigo deixo o abraço, o coração, a linha da palma de minha mão que segue na mão do outro. Pela gratidão ao amor amigo, deixo espaço pro abraço , mas reduzo o vácuo pra tristeza. O preenchimento é feito por estrelas que mergulham na intensidade de poder sentir o outro lá , aqui, real , virtual, impresso , disperso.
Pela gratidão ao amor amigo fico em silêncio , contemplando a beleza descrita na palavra que eleva ...
Pela gratidão ao amor amigo jogo flores espalmadas por onde fores caminhar !

Por Val Amores

quarta-feira

Efeito boomerang




Inacreditável e até mágica é a volta de tudo que vivenciamos .Momentos voltam , sejam eles bons ou ruins .Pode ser que outras pessoas atuem no dado momento- retorno , mas o momento, ainda assim é o mesmo .Traz até as mesmas sensações e algumas diferenciadas , vistas por um novo ângulo exposto .
Vivenciei a volta de um momento- sentimento , do qual havia conseguido me "desprender" em período de férias acadêmicas e porque não dizer , sentimentais.
Não se trata de um momento ruim ou de sentimentos ruins , mas de um momento-pessoa, momento-sentimento, do qual não tirarei realizações futuras, porque há dois focos , vertentes, caminhos distintos, diferenciados .Um querendo enlace e outro encontros sutis, daqueles que deixam no ar um vazio...
Vazio eu não quero sentir, quero sentir retornos fiéis , retornos de fato, recheados de saudade e luz , luz que cega porque emana uma vontade imensa , a sinergia perfeita , a invasão que expande a alma a ponto de uma fusão cósmica !
O momento retornou e com ele , o efeito catavento-girassol já citado antes .Veio como um tufão , daqueles que as estações de controle de tempo não conseguem detectar. Álias , essas sutilezas , essas chegadas silenciosas , são as que mais causam terremotos , abalos.No caso de um Ser , há um abalo quase que ósseo , quando as pernas insistem em ficar na área de risco , ou quando elas decidem,como que se levassem um empurrão, seguir avante .
Esse catavento girou noturno, mesmo sem vento e o girassol não quis saber de sol, bastava-lhe o clarão da lua, que apesar das nuvens , existe distante!
O que posso dizer do retorno?
Embora tenha sido assim , descrito, foi visto com novos olhos, maduros e aptos a afirmarem um não ou um sim sem medo.Mas, isso digo por hoje ,porque de amanhã não sei, ninguém sabe , tampouco desejo saber.
Deixo para as ciganas da lua a leitura das linhas da vida e embora há quem diga que eu tenho um pouco delas pela herança genética , prefiro não desvendar essas linhas, apenas segui-las a ponto de sentir emoções sem pré -preparo.
Mesmo diante do efeito catavento que recomeça num sistema boomerang, daqueles feitos manualmente para maior estabilidade e fidelidade de volta , eu não tive insônia verde -esmeralda , um dos sintomas do efeito.Sei lá ! Apesar de emoções em alta disritmia , o cansaço era maior.Dormi como se estivesse totalmente desligada ...
O catavento? ah deve ter ficado na janela , preso e o girassol deve ter cansado de esperar o clarão da lua e o boomerang? Bom, esse mandei de volta ás mãos do artesão.Artesão de tamanho talento, Universal, que só atira o instrumento na hora certa , para que ele volte nas mãos firmes, de gente capaz de se emocionar sem medo .
 Foi assim, como ver o mar (disse o cantor) ...só que em pleno deserto de 40°.

Por Val Amores

domingo

Foi noite e dia , num mesmo momento magia ...


Imagem Por Valéria Amores

Meticulosamente desenhou na areia da praia ao lado da pegada um traço alinhado , com a ponta do dedo indicador . No traço fez folhas , saltavam as folhas em direção ao mar.
Na ponta um círculo , em volta do círculo , pétalas.
A flor exposta , proposta à oferenda pelo dia de sol e luar, aceita foi pela água , que com a primeira onda chegada , a flor desenhada levou.
Marcada , então a pegada , também se apagou .
Ela foi embora descalça , oposta ...
Subiu pela pedra espalmada na terra , sentada na sombra ficou, ficou por horas a fio a olhar o vai e vem insano no sol , o marolar das águas que entravam pelo canto da pedra que formava um semi circulo , a criança correndo encantada pela brincadeira sem regra , porque ali podia sim, se sujar .
Pra cima olhou, avistou o luar em pleno dia de sol. Tímida a lua , transparente , "en -nuveada " pela grandeza maior que habitava a hora em luz.
Percebeu possibilidades , percebeu o efeito dado , percebeu ainda mais que para a maioria das pessoas tamanho efeito nem era notado .
A pressa do passo que leva o caminhante , a canga no chão que espera a imposição de um bronzeado da moda , os carros filmados, lacrados, estacionados , cercando a orla , o chopp tomado porque na semana não houve tempo para se "ter" essa hora , o banho de mar pra se refrescar , a corrida daquele que precisa ganhar ....
E  a lua em sol , estava lá, disposta , nunca olhada, talvez até assustada pela clareza fora da "noite" de luar. Era dia de sol enluarado ou de lua ensolarada que esqueceu de deitar , e nós , extremamente humanos, ocupados com a práxis de um lazer programado , nem sequer tentamos contemplar.
Ela então fotografou , de forma distante , só para ter o que des-programar , só para ter um tema poema para então se expressar...
Ficou ali ,pelas horas inteiras, até que a lua sumiu entre o mar , deixou a lembrança de um dia em que foi noite e  dia , num mesmo momento magia , e o homem isso não pôde programar , nem mesmo se dispôs a tentar observar .

Por Val Amores ~*

sábado

Da Proa eu vejo o sol flutuar

Imagem por Valéria Amores


Amanhece em sol , transparece sorriso .
A passada de pé na areia , de água salgada batendo na perna , suave, morna ,leva ao caminho então necessário ao dia .
Quebrou-se a rotina espalmada no cronograma de papel , na tela da frente , descrita pela digitação de sinais.
Foi-se , seguiu percurso na praia , na ponta da praia , na praia de ponta em ponta ,
Para aprender , pra passear , diferenciar , concretizar a palavra .
Sentada no muro, mureta , final ,
A Fortaleza é o ponto central, da luz atirada , da luz natural 
Pela ponte de embarque se deu a passagem , no balanço discreto, começa a viagem
A barcaça que leva ao centro do mar , leva consigo a ansiedade de quem quer viajar
Quando avistada a imensidão , o espanto é normal  , pelas cores , pelas ligas , pelo aço no mar
Flutua , flutua parado no mar
Flutua de volta pra logo chegar
Da Proa , eu vejo o sol e o luar,
Que num único dia, 
entre aços e barcos,
resolveram se encontrar .

Por Val Amores